Licença maternidade: os quatro meses do trabalho mais duro da sua vida.

Sentada nesta cadeira, de mãe em licença maternidade, divido meu olhar sobre esta experiência sem igual. Exigente, de muito amor, mas de muito trabalho. Trabalho sim, adianto para quem acha que mãe de licença maternidade está de folga ou de férias!

Que ilusão de vida fácil… Outro dia rimos muito eu e outra mãe, que está no mesmo barco, com bebê pequeno e em casa, sobre este momento intenso que vivem as mães. Confesso que, como mãe de terceira viagem, tinha esquecido o quanto demanda física e emocionalmente este momento. É tanto, que a memória da gente dá jeito de apagar. Esqueci e pronto. E agora, no segundo mês dessa jornada e de cuca fresca, posso falar “de cadeira”. E do quanto envolve lucidez e diplomacia nas relações.

Trabalho desde os meus dezesseis anos. Sempre fui uma executiva produtiva, trabalhando intensamente pelo estabelecimento de uma carreira sólida e por uma remuneração atraente. Transitei fácil em vários mercados, em viagens de trabalho que me levavam para lá e para cá, com noites curtas por conta de compromissos profissionais e de estudo.

Essa era a minha vida fácil. Eu e os meus desafios profissionais. Eu e o meu trabalho de expediente. Eu e metas pré-definidas.

Aí virei mãe. E mãe de novo. Dessas duas experiências, como falei antes, me esqueci. Defesa, deve ser…. Mas virei mãe de novo, aos quase quarenta. Em um momento no qual, além de executiva, inventei de escrever e manter um projeto através de um blog, o que eu amo muito fazer.  E neste cenário, entrei de salto alto na licença maternidade.

Não sabia nada, a inocente…

Durei de salto alto em torno de vinte dias. Afinal, este era o meu traje de guerra e se carregava dois filhos de sete e oito anos no colo, maquiada e de terno, porque seria diferente com uma bebê?

Pois então… aqui trago a experiência real de uma licença maternidade. Do expediente que não termina.

 Tenho três filhos em casa. Dois administrando o ciúme do bebê que chegou, redimensionando espaços na nossa casa e no meu coração. Brigam por cada segundo comigo. E brigam comigo pelo que perderam. Emocionalmente bem exigente, se considerarmos que mães não querem faltar com filhos, e comigo não é diferente. A bebê é um doce presente que completou o meu coração. Só que naturalmente tritura o meu corpo e o meu sono. Ando com conchas de leite cheias, embalando-a pela casa. Aquela bonequinha…. Cólicas e adaptações ao nosso mundo tornam a vida dela algo nada fácil, e por consequência, estou eu aqui para acalenta-la e apresenta-la pouco a pouco a vida em família. Grande, no nosso caso.

Durmo pouco, com muitos intervalos e, durante o dia, preciso dividir meu tempo entre temas escolares dos mais velhos, orientação às rotinas da casa, amamentação a cada duas horas, e-mails da empresa e a terapia que é escrever os meus textos. Ficou difícil manter o salto. Mantive o semblante minimamente sadio como presente ao amor da minha vida, que também mora na minha rotina. Mas foi só. Abandonei os sapatos por tempo determinado e me “amiguei” a um par de botas baixas, prima dos tênis dos maratonistas. Estes que em muito se parecem com a minha atual condição.

Nesse processo, administrar este momento exigiu muito da executiva que construí ao longo dos anos. Muitas das nossas rotinas exigiram de mim um pouco da objetividade e do pragmatismo que o meu trabalho sempre me exigiu. Me demandou um cuidado imenso com as relações que me cercam, pois ninguém tem culpa do meu cansaço. Me fez diplomática, atenta e estimulada ao estabelecimento da nova parceria que construí no meu casamento, muito além do amor sedutor e charmoso que mantínhamos antes das camisolas e conchas de amamentação que hoje vivem na nossa rotina. Me construiu uma mãe e uma mulher mais resistente.  Ao sono, à fome, aos testes de paciência.

Sabem porquê? Porque nestas relações não dá para fracassar. Não com eles.  Não com os filhos que tanto amo, não com a bebê nova que de mim se alimenta, não com o marido que esteve sempre ao meu lado. E aí, se sai melhor. Pós-graduada. Desses quatro meses de muito, mas muito trabalho.

Então, mais respeito com as mulheres em licença maternidade. Não tem ninguém de férias nela. Ao contrário, é uma escola de super-heróis.

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